segunda-feira, 13 de abril de 2009

REFLEXÕES E DESAFIOS

Sabemos que o meio ambiente não pode ser reduzido a preocupações com a ecologia – uma área das ciências biológicas – ou com a natureza. Os seres humanos nem sabem mais o que é “natureza”, pois o meio ambiente já está tão completamente penetrado e reordenado pela vida sociocultural humana, que nada mais pode ser chamado com certeza de apenas natural ou social. A natureza se transformou em áreas de ação nas quais precisamos tomar decisões políticas, práticas e éticas.1

Enfrentamos agora uma crise ambiental nunca vista na história, que se deve à enormidade de nossos poderes humanos. Pois tudo o que fazemos tem efeitos colaterais e conseqüências não antecipadas que, diante dos poderes que possuímos atualmente, tornam inadequadas as ferramentas éticas que herdamos do passado. Um filósofo contemporâneo, Hans Jonas, descreveu com uma simplicidade contundente a crise ética de profundas incertezas em que nos achamos: “Nunca houve tanto poder ligado com tão pouca orientação para seu uso”. Pois é, tecnologias altamente impactantes nos chegam sem manual de instruções ou bula.

A educação ambiental assume, assim, a sua parte no enfrentamento dessa crise, radicalizando seu compromisso com mudanças de valores, comportamentos, sentimentos e atitudes, que deve se realizar junto à totalidade dos habitantes de cada base territorial, de forma permanente, continuada e para todos. Uma educação que se propõe a fomentar processos continuados, de forma a possibilitar o respeito à diversidade biológica, cultural, étnica, juntamente com o fortalecimento da resistência da sociedade a um modelo devastador das relações de seres humanos entre si e destes com o meio ambiente.

Este texto coloca um duplo desafio: um planetário, relacionado à difícil tarefa de enfrentamento das mudanças ambientais globais; o outro, educacional, visa contribuir para a educação integral, que resgate uma função social da escola quase escondida, propiciar um ambiente de aprendizagem criativo e transformador que dê gosto permanecer na escola.

No que se refere ao desafio planetário, sentimos em nosso cotidiano uma urgente necessidade de mudanças radicais para superarmos as injustiças ambientais, a desigualdade social, a apropriação da natureza – e da própria humanidade – como objetos de exploração e consumo. Vivemos em uma “sociedade de risco”2, com efeitos que muitas vezes escapam à nossa capacidade de percepção direta, mas aumentam consideravelmente as evidências de que podem atingir não só a vida de quem os produz, mas a de outras pessoas, espécies e até gerações.

O desafio da educação integral pode ser enfrentado ao realizar, com planejamento e densidade, os processos de Conferência na Escola, sendo uma forma de ação fundamental para atualizarmos e aprofundarmos debates ambientais tão urgentes. Com o apoio de uma educação ambiental crítica, participativa e emancipatória, possibilitamos o empoderamento das comunidades locais e propiciamos também subsídios para o sempre falado, mas tão difícil exercício da transversalidade, da inter e transdisciplinaridade das questões ambientais no cotidiano da vida escolar. Podemos, assim, gerar uma atitude responsável e comprometida da comunidade escolar com as questões socioambientais locais e globais, bem como enfatizar a melhoria da relação ensino-aprendizagem.

1. BECK, Ulrich; GIDDENS, Anthony; LASH, Scott. Modernização reflexiva: política, tradição e estética na ordem social moderna. São Paulo: Editora UNESP, 1997.
2. Conceito criado por Ulrich Beck, que “designa um estágio da modernidade em que começam a tomar corpo as ameaças produzidas no caminho da sociedade industrial”. Ibid., p. 17.

Bibliografia: http://portal.mec.gov.br/secad/CNIJMA/arquivos/reflexao_desafio.pdf

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